Para tentar certificar a origem do primeiro corset teríamos em mãos uma missão quase impossível de ser realizada. Há registros de peças semelhantes aos corsets na Grécia antiga e principalmente na civilização cretense, bem como em outras culturas antigas. O fato é que o espartilho veio de uma origem incerta, com um propósito claro: Modelar e construir uma silhueta. Mas como surgiu na Moda os primeiros daqueles que hoje vieram a ser o corset que você pode ter em mãos?!
No começo, e aqui falamos de século XV e XVI os ancestrais do espartilho surgiram com algo que era quase uma armadura, muito rígida, feita de diversas camadas de tecidos grossos reforçadas com cordas, crinas de cavalo, ossos e chifres, tinham uma forma cônica e elevava a altivez das mulheres, eram destinados aos nobres, que deviam destarcar-se do restante da sociedade, tais peças de maneira alguma apresentavam ergonomia ou conforto fisiológico. Na língua inglesa, eram chamados de “Stays” ou “Bodices” ou até outras nomenclaturas. Estes “corsets” eram feitos somente para as mulheres mais abastadas da sociedade, somente a elas era permitido se fazer o uso dessa peça, exclusiva à nobreza.
Fato curioso: Os Bodices ou Stays eram produzidos em associações de artesãos, (essas associações eram o que restou do antigo sistema da GUILDA medieval), e as peças eram feitas APENAS por homens, a tradição não permitia que mulheres trabalhassem na “guilda”. Reflexo da sociedade machista e do forte patriarcalismo.
Já nessa época há alguns relatos do uso do Corset por homens. Vale ressaltar, que na época a qual nos referimos agora, as roupas masculinas AINDA tinham formas bastante rebuscadas e volumosas, quase tão quanto à feminina, o que permitia ao homem fazer uso do corset de forma discreta sem que outros tomassem conhecimento.
O corset evoluiu através do tempo e por todo o século XVII e XVIII foi tomando formas mais confortáveis, apesar de manter um silhueta bem semelhante, ao longo de seus primeiros séculos. Nesta época era usado na estruturação de um corset as famosas Barbatanas de Baleia, peças cortadas e acabadas manualmente, uma a uma, a partir das partes de tal animal, um trabalho árduo dispendioso e de custos altíssimos. O corset era uma peça que servia de BASE para a roupa feminina, não havia como pensar em uma veste bem assentada ao corpo de uma mulher da nobreza ou realeza européia sem um corset. Por sua vez a roupa masculina foi se tornando cada vez mais “seca” e justa ao corpo, mas isso não impediu o uso do corset por homens.
Após a Revolução Francesa os “Bodices” ou “Stays” caíram em desuso devido à ascensão de Napoleão e a popularização do estilo conhecido como Neoclássico, que remetia a antiga Grécia, Na França, e no mundo pós-revolução as percepções da sociedade mudaram de forma radical, e a sociedade como um todo renegava as antigas formas, e as antigas tradições da “Realeza Divina”. Mas o estilo neoclássico perdurou pouco, logo depois as silhuetas voltaram a ser rígidas e volumosas novamente, a opulência era norma e o antigo Bodice (rígido, desconfortável e quase sem curvas) passou a ser conhecido como CORSET.
Por volta dos anos de 1800 o novo modelo de corset se tornou BEM mais curvado, mais harmonioso e evoluía cada vez mais rápido, em termos de formas e matérias, no lugar das antigas barbatanas de baleia agora eram usadas barbatanas espiraladas de metal, que tinham melhor efeito nas curvas inovadoras e arrojadas, que eram impostas ao corpo. E no ano de 1829 um Corsetier francês desenvolveu o BUSK, uma espécie de fecho especial para espartilhos, peça que até hoje é usada nos corset e permite que uma única pessoa possa abrir e fechar seu corset na frente sem a necessidade de outro ajudante para tal tarefa.
O corset agora fazia parte de uma verdadeira INDÚSTRIA, estimasse que em Paris no ano de 1855 houvessem cerca de 10.000 (dez mil) trabalhadores especializados na produção de corsets, isso apenas na Cidade Luz. E agora sim, Homens e Mulheres estavam envolvidos na produção deste indumento.
E foi no século XVIII que surge um fenômeno que contribuiu para a disseminação aberta do uso do corset por parte dos homens: o DANDISMO.
O Dandismo primeiro aparece na Inglaterra no período regencial, e se espalha com sucesso pela frança no período romântico, seu estilo é caracterizado por homens que se vestem com extremo refinamento e sobriedade, seguindo os ditames mais fortes da moda no seu momento histórico. Suas roupas, pela primeira vez na história, ressaltam o que poderá haver de “belo” no corpo masculino. Uma idéia inovadora e revolucionária à época, e que gerou inúmeras manifestações de depreciação e preconceito ao movimento social do Dandismo. Os Dandis faziam uso abertamente do corset e tomaram posse do indumento feminino para eles, a fim de CONSTRUIR um corpo aos moldes que este homem (o Dandi) achasse que estava de seu agrado. No ano de 1815 já circulavam em periódicos da época inúmeras caricaturas de Dandis sendo Laçados em seus corset por seus servos, tudo isto exaltando um lado “afetado” da prática do uso de corsets por homens, que nunca foi, de fato, bem aceita. Os homens que queriam fazer uso dos corsets, mas que por sua vez não estavam envolvidos com o fenômeno do Dandismo faziam uso da peça tendo como objetivo (ou pelo menos assim o diziam) a CORREÇÃO POSTURAL ou como AJUDA EM UMA NOVA DIÉTA, poucos eram os que de fato assumiam o uso por simplesmente: Gostar das formas e das curvas. Apesar da moda masculina na época como um todo dar ênfase a região da cintura.
Na era vitoriana o Corset estava com seu uso mais difundido do que jamais estivera. Absolutamente indispensável para qualquer mulher que prezase por uma silhueta considerada, à época, Bela. O corset nos anos de 1800 teve suas formas sempre bem arredondadas, a cintura nunca esteve tão “pequena” quanto aqui tornou-se. A invenção dos ilhoses de metal, do Busk e de tecidos especiais para corset veio a permitir uma maior ousadia na construção das peças, o que trouxe a ascensão da cintura de circunferência cada vez menor. Claro que as Micro-Cinturas do século XIX eram raríssimas, a grande maioria das mulheres usava os corsets de forma moderada, como um suporte, mas infelizmente apenas os casos mais extremos de afinamento da cintura por corsets entraram para história, como lendas e muitas vezes narrando fatos (e medidas, como a cintura de 32 cm) irreais.
E assim foi durante grande parte do século XIX, com o declínio do Dandismo o corset também voltou a se tornar mais raro entre os homens, pelo menos abertamente falando. Mas ai devemos falar de um outro fenômeno que tomou corpo no final do século (XIX), e este entre homens e mulheres, o FETICHISMO, este fenômeno tido como fruto oriundo da sociedade capitalista e de consumo estimulado pela imagem gerou um movimento social que desde sua origem vem sendo descriminada à uma espécie de sub-mundo. Em termos breves e insuficientes para descrevê-lo, o Fetichismo é a EROTIZAÇÃO de um certo OBJETO ou ATO, no fetichismo quase tudo é passível de erotização,o fetichista busca simbologias, formas, cores, texturas e etc, afim de obter um prazer sexual e um deleite visual que é compreensível talvez apenas a ele, envolvido em sua prática, desenvolvendo as regras de sue próprio jogo. O fenômeno fetichista veio a tomar o Corset como um de seus símbolos mais fortes e assim o é até hoje, determinados matérias utilizados na fabricação de alguns corsets tais como borracha e couro faziam desta peça um objeto erotizado e envolvido em praticas de dominação ou submissão . No fetichismo e na prática do Fetiche o corset tem sido usado mais fortemente desde o século XIX até os dias atuais.
Então, no início do século XX temos a ascensão de uma nova moda feminina, mais leve, mais fluida e “longe do corpo”, estilista como Paul Poiret e Chanel contribuíram muito para que tais estilos fossem adotados, e que a mulher viesse de fato ingressar na sociedade moderna como parte produtiva dela. Finalmente a mulher conquistou o direito de trabalhar de ter liberdades de movimento, sem toda aquela indumentária que antes pesava quilos, e que as faziam, para os padrões modernos, parecerem-se mais com alegorias.
Nos anos de 1940, mais precisamente em 1947, veio o New-Look de Christian Dior, que trouxe de volta a cintura fina para as mulheres, e com isto o corset voltou a ser palco de polêmica envolvendo pontos de vista político e sociais, o movimento feminista anos depois chegou a queimar sutiãs em público como forma de negação a repressão patriarcal, e muitos outros manifestos foram feitos. O século XX foi de fato VELOZ em relação a “Evolução da Moda”. Nos anos 80 e 90 vimos o surgimento de novos Couturiers franceses que traziam de volta à alta costura o corset, foram eles Jean Paul Gaultier, Thierry Mugler e outros tantos. Madonna surge no placo com um corset que afronta por sua ousadia, com busto pontiagudo e etc. Assim o corset desperta novamente no imaginário mundial.
Viramos o século e o milênio, e vemos um movimento que começa a tomar corpo e a despertar novamente, o corset começa a fazer seu retorno a cena da moda seja como peça íntima ou Out-fit, este fenômeno é observado mundialmente. Outro fator pode ser identificado com a busca do corpo perfeito, e ai sim podemos aplicar a teoria a homens e mulheres.
Na época em que vivemos a Era da Cirurgia Plástica, vemos uma busca desenfreada por corpos perfeitos, vai-se cada vez mais à academia, recorremos a dietas da moda fazemos aplicação de botox no corpo, tudo em busca da perfeição estética, mas ai ao olharmos para traz, para o passado da humanidade, vemos corpos perfeitos e com belíssimas curvas, em uma época que a cirurgia não era tão comum, e ao observarmos e pensarmos sobre o assunto descobrimos que através do CORSET podemos construir um corpo com formas perfeitas e curvas harmoniosas independente de qual seja o biótipo. Com o uso do espartilho de antigamente, homens e mulheres podem obter um corpo belo sem recorrer a métodos INVASIVOS ao corpo.
Nunca saem de moda
"Corsets são peças muito clássicas e por isso podem sempre ser aproveitadas na moda. Mesmo nos períodos onde o corset não está em alta, a peça continua sendo usada para modelar o corpo e é a roupa mais eficaz nesse sentido."
Para magras e gordinhas!
"Não há necessidade de ser magra para usar corset. Mulheres voluptuosas podem abusar da peça, elas são as maiores beneficiadas. Porém, as que estão muito acima do peso devem evitar a exposição do corset usando-o por baixo da roupa.
O top de linha
"O modelo mais vendido é o underbust clássico na cor preta (corset que fica abaixo do busto). Esse modelo é o predileto porque pode ser usado com quase todo tipo de roupa, quase como um cinturão."
Modelos estravagantes
"Algumas famosas já me pediram corsets com incrustações de pedras, e já tive clientes que trouxeram tecidos de família guardados há anos."
Homens de espartilho?
"Muito menos que as mulheres, é claro, mas já tenho clientes de perfil moderno ou dandy (homem preocupado com o as roupas que veste), que usam meus corsets. E já fiz até para um noivo!".
Última dica
"Tendência para mim é um palavrão. Eu costumava dizer que a moda existe para quem não tem estilo próprio. A grande vantagem nos dias de hoje é que ela é tão rápida e cria tantas tendências simultaneamente que é mais fácil conseguir isolar vários elementos para compor o próprio estilo. O corset é uma peça que nunca sai de moda."
O corset é uma paixão LOUCA minha há anos e eu não poderia deixar de trazer ela pro blog. Comumente associado às cinturas vitorianas, ele não mudou muito da renascença até a revolução francesa, quando a aposta era formas mais naturais.
Logo essa tendência caiu e o corset voltou à cabeça das damas, e às costelas delas também.
No século XIX aparecem os ilhoses, com o objetivo de reforçar o tecido, para que não se rasgassem. As cinturas começam a ficar mais estreitas, pois já desde outrora havia o hábito de se confeccionar os corsets com barbatanas de osso de baleia, o que deixava a peça ainda mais estruturada e rígida, além de achatar o ventre e suportar o busto; o corset não chegava aos quadris e sempre cobria o peito. O aço substitui as barbatanas de baleia, que já eram raridade. A silhueta foi tomando a forma de um “S” – o peito estufado, a barriga reta e o derriére empinado. A linha do busto ficou mais baixa e o corset chegava a cobrir os quadris.
Achatar o estômago e manter a postura, na Belle Époque, era mais importante do que uma forma de ampulheta, e os corsets da época eram considerados “saudáveis” por conta disto.
Nos anos 20 o corset caiu no desgosto popular e ficou apenas restrito ao fetiche de algumas durante a maior parte do século XX. Mas em meados dos anos 70 estilistas como Vivienne Westwood e Jean-Paul Gaultier trariam à tona essa tendência, que agora é fetichista. A partir dos anos 90 o corset se tornou couture, comum em revistas como vogue.
Aqui no Brasil a maior estilista de corsets é a Madame Sher, que tem seu atelier no bairro Paraíso em São Paulo, já os gringos que mostram um trabalho bacana, mas com propostas diferentes da nossa Sher são as marcas Morgana Femme, VersAtelier, Valkyrie e Emma, com seus manequins incríveis (queria um de cabideiro lá em casa).
Minha favorita continua sendo a Sher, pelo impecável acabamento e limpeza das peças, escolha de materiais, alguns que ela própria confeccionou, como os rebites de fechamento dos corsets. Fora que é linda, elegante e tem atitude.
Quero muito adquirir um corce mas moro no Rio, como faço?
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